22 março 2016

Entre escombros... entre escolhas

ENTRE ESCOMBROS... ENTRE ESCOLHAS
Por: Alessandra Leles Rocha



Terrorismo - sm. Modo de coagir, combater ou ameaçar pelo uso sistemático do terror. (Aurélio - Dicionário da Língua Portuguesa)

Lamentavelmente, acordamos com a notícia de mais um terrível atentado terrorista na Europa, dessa vez em Bruxelas, na Bélgica. Segundo a Agência de Imprensa France-Presse (AFP), “Pelo menos 34 pessoas morreram e mais de 150 ficaram feridas nas explosões que ocorreram nesta terça-feira no aeroporto de Zaventem, em Bruxelas, e na estação de metrô de Maalbeek, no centro da capital europeia”. Mas, apesar da comoção que as imagens e notícias nos causam é fundamental refletir seriamente sobre o que se esconde nas sombras do radicalismo intolerante disseminado pelo mundo.

De acordo com as palavras do filósofo e teórico político Jean-Jacques Rousseau, “Se a razão que faz o homem é o sentimento que o conduz”. Partindo dessa lógica, me parece muito difícil, então, crer que tamanha crueldade parta somente de fundamentos ideológicos arraigados e distorcidos. É preciso que tais doutrinas encontrem abrigo e amparo nas emoções e sentimentos humanos, de modo que haja uma frieza plena para não se envolver e, nem tampouco, pensar nos milhões de passantes ao redor. Não, não há ideias suficientemente grandiosas que sejam, em sã consciência, capazes de preterir a vida e o bem estar dos seres humanos; a não ser que, tudo isso, nos parecesse de fato sem a menor a importância.

Por excelência os viventes do planeta desenvolveram, cada um a sua forma, o seu instinto de sobrevivência para garantir a manutenção das espécies. Sendo assim, quando nos deparamos com o movimento contrário a esse princípio entre os humanos, nos deparamos com um fenômeno em que a exceção passa a se tornar regra e eleva os riscos em relação ao nosso futuro. A vida tem sido relegada mais e mais as últimas instâncias de prioridade, entre o TER e o SER, o primeiro é o que deve ser preservado; muito embora, o que vale o TER se não há o SER para desfrutá-lo? Entretanto, apesar disso, revire as páginas da história e veja quantos foram os que sucumbiram aos ditames do TER, as honras e as glórias do ouro e do poder.

Talvez a explicação desse comportamento esteja pautada em uma dose generosa de egoísmo a corroer a humanidade.  Deixamo-nos levar pelas palavras, pelos ídolos, porque nos é conveniente pensar sob uma ótica individual dos interesses, daquilo que se pode lucrar, mesmo que eventualmente prejudique o outro. É assim que muitos não conseguem enxergar as mazelas do mundo e se postam a margem, numa bolha de isolamento ideológico altamente resistente, a qual os permite cometer as piores e mais abomináveis atrocidades contra seus pares, sem lamentar ou sentir nenhum sentimento de culpa.

Não se consegue extinguir as diversas faces do terrorismo porque sempre há quem aplauda e reverencie tais práticas. As ideologias de extremo radicalismo exercem um fascínio sobre mentes egoisticamente vulneráveis; por isso, eles mantêm certo equilíbrio na rotatividade de adeptos para suas investidas, não lhes deixando faltar recursos de nenhuma natureza, especialmente, financeiros. Sim, porque as ideologias usam do dinheiro para manterem-se vivas, para persuadir novos seguidores, para apontar uma série de benefícios que só através dele é possível obterem em curto prazo. 

Dizia Martin Luther King que, “A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio”. Por pior que sejam as circunstâncias da vida pós-moderna, algo ela nos tem revelado em concordância com essas palavras: as máscaras estão pelo chão. Sim, o posicionamento das pessoas tem dito muito sobre elas, sobre o grau de envolvimento e sensibilização em relação aos sofrimentos e obstáculos a serem vencidos pela coletividade. Observando com atenção todos aqueles tidos como engajados e atuantes em favor do bem social, quantos realmente se mostram defensores dos fracos, dos oprimidos, dos escravizados? Por quais causas eles realmente militam? Será que estão preocupados com os milhões de desempregados, ou os que concorrem em verdadeira ‘roleta-russa’ por um leito de UTI nos hospitais públicos, ou os que não conseguem estudar pela ausência de transporte, ou... ou...? Será que estão na defesa da liberdade e demais garantias de direitos humanos?

É. Quem vê cara não vê coração e de repente se descobre o real tamanho dessa legião de seres desumanos pelo mundo. Anônimos e famosos que hasteiam suas ideologias com um orgulho feroz. Manifestam suas filosofias de botequim, sem nenhuma cerimônia. E no fim das contas, querem mais é que tudo se exploda bem longe do seu quintal de indiferença e alienação. São os donos da verdade; aliás, como se essa fosse passível de uma única definição. Tudo o que não sai de seus pontos de vista é rechaçado com veemência e desqualificado sem direito a contestação; seja na política, na economia, na religião, ou no futebol.

Portanto, os atos de terrorismo não estão presentes somente na Bélgica, ou na Europa. Eles estão aonde o ser humano está. O terror está no derramamento de sangue; mas, também, na omissão silenciosa. Ele está nas bombas que explodem em locais cotidianos; mas, também, nas palavras verbalizadas ou não dos meios de comunicação. Ele está na idolatria, na ignorância, na incapacidade de dialogar e de reconhecer os próprios erros; afinal, quem foi que disse que o ser humano é perfeito, hein? Temos que parar de relativizar a vida, estabelecendo quem pode viver quem pode morrer quem pode trabalhar quem pode ser feliz, quem... Nenhum fim justifica qualquer meio para alcançá-lo; então, quem escolhe o lado do terror, o escolhe por vontade própria.

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ALESSANDRA LELES ROCHA
Professora, Bióloga e Escritora
Uberlândia - MG
alessandralelesrocha@hotmail.com

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